Olá pessoal,
Hoje vou
mudar um pouco a abordagem. Há tempos atrás quando o famoso cantor sertanejo
faleceu apareceu o termo "Abismo cultural", hoje o tema que escolhi
para abordar tem muito a ver com verdades e mentiras sobre uma polêmica, AGROTÓXICOS.
Ele realmente é do mal? Podemos viver sem eles? Porque na Europa se
usa menos agrotóxicos?
Segue abaixo um artigo onde poderemos ver a real necessidade e porque os
agrotóxicos se tornaram um vilão para grande parte da população.
Não quero gerar nenhum tipo de polêmica com esse artigo, ele serve
apenas para tentar mostrar a nossa dependência dos defensivos agrícolas para o
controle em lavouras comerciais para a produção de alimentos.
Recebi esse artigo de um colega de profissão e amigo de republica que
hoje trabalha em Brasília defendendo e ajudando a melhorar as condições de
nossos produtores rurais. Obrigado Gustavo Goretti por compartilhar esse texto.
lado a lado planta de soja sem e com a utilização de defensivos
OS
AGROTÓXICOS SÃO DO MAL?
Se bem
recomendados e aplicados, os agrotóxicos são para as plantas muito semelhantes
ao que os medicamentos são para os humanos.
Autor:
Alfredo José Barreto Luiz
16 de
Outubro de 2015
É cada
vez mais frequente encontrarmos textos satanizando os agrotóxicos,
principalmente nas redes sociais. Todos procuram dar uma certa aparência de
"verdade científica" aos argumentos, mas, na realidade, estão quase
sempre cheios de erros, preconceitos ou conceitos equivocados.
Se bem
recomendados e aplicados, os agrotóxicos são para as plantas muito semelhantes
ao que os medicamentos são para os humanos. Embora possam ter efeitos
colaterais, são pensados para curar os vegetais cultivados e não para causar
efeitos colaterais. O Brasil é grande usuário de agrotóxicos (que em outros
países são chamados de pesticidas, pois se destinam a matar as pestes e não a
serem tóxicos para o 'agro') por causa do clima tropical e da grande área
plantada. Nos países de clima frio, durante o inverno há um controle natural
das pragas, doenças e plantas invasoras que prejudicam a produção agrícola.
Isso não ocorre no nosso clima tropical.
A
afirmação de que nós brasileiros, consumidores de produtos agrícolas, ingerimos
cinco litros de agrotóxicos por ano, é totalmente falsa. Esse é o volume total
de agrotóxicos aplicado sobre toda a área cultivada brasileira ao longo do ano,
simplesmente dividido pela população. Nesse cálculo entram todos os produtos
aplicados na cana-de-açúcar destinada à produção de álcool, por exemplo,
produto que não é ingerido por nós, humanos. E a cana é a segunda cultura em
área no Brasil. Também entram todos os agrotóxicos aplicados na soja exportada,
que não é ingerida por nós, portanto. E tudo que é aplicado nas seringueiras,
cultivadas para produção de látex, e nos eucaliptos e pinus destinados à
produção de celulose e papel, nas demais essências florestais etc.
Mais
importante que isso é que os agrotóxicos trazem no rótulo uma informação sobre
o prazo de carência; o que é isso? É o prazo que deve ser respeitado entre a
última aplicação do produto e a data da colheita (especialmente importante no
caso de produtos alimentícios). Esse prazo é calculado para que as substâncias
químicas ativas dos agrotóxicos já tenham se transformado em outras (pela ação
da temperatura, luz, umidade etc.), restando em quantidade tão reduzida e
diluída que não oferece mais perigo. Se essa instrução for seguida, nenhuma
quantidade significativa de agrotóxico chegará às mesas dos consumidores.
Além
disso, da quantidade aplicada sobre uma área, apenas uma pequena fração atinge
a parte da planta que vai ser ingerida. Por exemplo, um dos agrotóxicos mais
consumidos é um herbicida aplicado na área de soja, a cultura de maior área
plantada no Brasil. Os herbicidas são utilizados para controlar as outras
plantas que surgem no meio do plantio da soja e competem com ela por luz,
espaço, água e nutrientes, prejudicando o desenvolvimento da cultura e
atrapalhando enormemente o manejo da mesma, principalmente a colheita. Pois
bem, boa parte dessa quantidade enorme de agrotóxicos é aplicada no período
inicial do crescimento da soja, bem distante no tempo da colheita dos grãos.
Os
herbicidas são usados nos plantios florestais, em cana e, mesmo os aplicados em
culturas de produtos comestíveis, seguem o padrão de aplicação na soja, ou
seja, a maior parte é aplicada nos estágios iniciais das culturas, longe da
época da colheita. E, segundo os últimos oficiais dados disponíveis, de 2013, do
total de agrotóxicos consumidos no Brasil, os três mais vendidos eram
herbicidas, que sozinhos representaram 50,7% do total comercializado no país
naquele ano.
Muito do
que se diz sobre agrotóxicos é mentira e prejudica o debate saudável e
necessário sobre o tema. Realmente, existem problemas nessa área e graves. O
primeiro é o contrabando de produtos. Isso prejudica economicamente o país,
além de moralmente todos os envolvidos. Esse comércio ilegal permite a ação de
máfias, sempre ligadas a outras formas de crime e corrupção, além de ocorrer à
margem de todos os controles, facilitando a existência de produtos falsos,
vencidos, não eficientes etc.
Outro
problema é a não observância das recomendações para aplicação dos produtos.
Dentre as inobservâncias, a mais perigosa é para as pessoas que aplicam os
produtos (muito mais expostas que os consumidores). Os trabalhadores envolvidos
na aplicação desses produtos devem usar rigorosamente os Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs), conforme indicado nos rótulos dos produtos.
Infelizmente isso não é cumprido em muitos casos, prejudicando a saúde dos
aplicadores, chegando a causar a morte.
Outras
‘desobediências' das normas se dão quanto a quantidade aplicada, o intervalo
entre as aplicações, no prazo de carência antes da colheita (principalmente em
algumas frutas e hortaliças, cuja colheita se estende pelo tempo, como morango
e tomate), na regulagem do equipamento de aplicação, na mistura não recomendada
de produtos, na aplicação de produtos não recomendados para a cultura em
questão etc.
Isso sim
deveria ser muito mais discutido pela sociedade. É como o caso de medicamentos
falsos, contrabandeados, vendidos sem receita, utilizados na quantidade e
frequência erradas etc. O problema não está no medicamento, mas no uso que é
feito dele. E não se vê uma campanha contra os medicamentos humanos por causa
dos problemas no seu uso. Também não são os agrotóxicos os vilões. O problema é
o seu mau uso.
Por fim,
da mesma forma que existem problemas com a concentração da produção de
medicamentos humanos nas mãos de grandes multinacionais, que devem ser
discutidos e enfrentados com leis que facilitem o acesso da população aos
medicamentos essenciais, como o Brasil tem feito de maneira exemplar para o
mundo (o caso dos remédios para a AIDS é o melhor exemplo), os agrotóxicos têm
sua produção concentrada nas mãos de algumas multinacionais e, nesse caso,
também deve haver um enfrentamento no interesse da população para baratear os
custos da utilização (o preço alto está raiz do contrabando, inclusive).
Mas,
condenar o remédio não cura a doença! Devemos esclarecer o assunto, e não
confundi-lo, para realmente enxergar os verdadeiros obstáculos e
ultrapassá-los. Enquanto ficarmos produzindo mais calor e ruído, apenas criando
atrito e não resultando em trabalho, estaremos fazendo o que querem aqueles que
são contra os interesses da maioria da população e nacionais (afinal somos um
grande e eficiente competidor internacional na produção de matéria prima
agrícola).
Alfredo
José Barreto Luiz, Engenheiro Agrônomo, Pesquisador na Embrapa Meio Ambiente
Alfredo
José Barreto Luiz
Pesquisador
da Embrapa Meio Ambiente.